“Não há enigma a resolver, trata-se apenas de interpretar a sua estrutura.” (Theodor W. Adorno)

Quando mais uma vez nos apropriamos dos resultados de avaliações externas a que foram submetidos nossos alunos da Educação Básica (outubro, 2015), nosso olhar se volta para os que dizem respeito à aferição das habilidades em leitura/interpretação, vez que esses apontam para um avanço razoável quando se trata de localizar informações no texto, embora muito haja que se construir no sentido de saber fazer inferências, estabelecer relações entre dois ou mais textos, identificar-lhes as marcas logísticas ou seus temas.

Dessa maneira, a questão da avaliação focada na leitura remete-nos a reflexões relacionadas à apreensão do texto como construção do conhecimento, tão necessária ao desenvolvimento de outras áreas do saber. Se escola e leitura guardam consigo afinidades eletivas, se é na sala de aula que circulam os textos que movem nossos estudantes às primeiras vivências com a cultura letrada, por outro lado, a tarefa de desenvolver o gosto pela leitura é árdua, pois não há fórmulas prontas nem metodologias adequadas ao seu completo domínio, vez que, a cada tipo de texto, um modo específico de ler.

Mas é a escola, como causa potencial de experiências de leitura, que deve iniciar seus alunos na tarefa de compreender cada produção textual pelas suas especificidades: se trata de texto do mundo midiático, faz-se necessário desenvolver-lhes a vigilância para que nele percebam todos os sentidos, até os menos desejados; se buscam a ficção e a poesia, não há como privar-lhes de se render ao engenho da linguagem, à originalidade/criatividade do artista. Mas o que não pode faltar ao nosso leitor múltiplo é interpretar, posicionar-se diante do texto (ainda que comprometido com forças ideológicas vigentes), pois o que funda a palavra escrita vai muito além dos interesses dominantes que dirigem discursos e formadores de opinião.

Trabalhar com tudo isso em sala de aula pode tornar-se um desafio, na medida em que, como docentes, muitas vezes não nos sentimos na condição de leitor assíduo, no enfrentamento diário com o mundo da escrita. O que nos leva a indagar por que lemos tão pouco, responsabilizando o tempo, senhor das urgências, pela nossa precária condição de leitores apressados, ou atribuindo aos modernos meios eletrônicos de comunicação a responsabilidade pela leitura breve e aligeirada que nos oferece o cotidiano.

E, posto que – luta vã –  alguns ousem afirmar que a leitura através de recursos digitais em detrimento do objeto livro é pensada hoje como uma possível extinção de sua espécie, é preciso reafirmar o caráter insubstituível (dizem os entendidos) dessa relação amorosa (quase de alcova) que estabelecemos com suas páginas, onde se assinala o que só a intimidade entre leitor/texto pode proporcionar.

Portanto, o enigma da leitura talvez se encontre no imponderável que permeia cada texto, cuja chave devemos encontrar, vez que a obra não se põe diante de quem lê senão com o propósito de produzir um sentido, que pode ou não ser legitimado. Trata-se, pois, de um acordo de leitura, exigindo constante interação entre leitor/texto, e que, quando convocados a escrever (na escola ou fora dela), nossos alunos sejam capazes de perceber que o “tecido”, agora pronto, não é senão resultado das suas experiências de leitura, produzido pacientemente através de citação em citação. Um mosaico que se transforma em outro texto: o seu.

Profa. Arlene Borges da Cunha
SRE Metropolitana B

 

 

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