Pela mão do mestre o discípulo aprende sobre os fenômenos naturais; assimila os processos históricos vitais da produção tecnológica, das manifestações da arte e, a respeito deles, questiona, investiga, argumenta.

Pela mão do mestre o discípulo seleciona, organiza, relaciona e interpreta dados e informações representados sob diversas formas no intuito de enfrentar situações-problema e tomar decisões.

Pela mão do mestre o discípulo compreende a linguagem como a quintessência das experiências humanas, seu caráter arbitrário que a edifica em códigos e linguagens, na escrita e na fala, e cuja atividade leitora é capaz de remetê-lo a diferentes áreas do conhecimento.

Pela mão do mestre o discípulo não só descobre a força mítica do verbo em seu estado primitivo, que poetiza o mundo, mas apre(e)nde a fungibilidade da retórica, as leis do discurso, a rigidez dos sistemas, as errâncias do pensamento.

Pela mão do mestre o discípulo é capaz de tomar consigo a cultura que lhe é espontânea, reorganizar a cultura letrada, elevar-se a um novo patamar de saber, transformando, pela lente míope da palavra, as imagens do mundo.

Pela mão do mestre, este insubstituível mediador de aprendizagens, o discípulo aprende a extrair da natureza a naturalidade das coisas e as reinventa, quer por uma viagem ao grito de Munch ou por uma fuga de Bach.

Pela mão do mestre o discípulo aprende – ao se apropriar dos conteúdos culturais através do esforço da mente e do exercício – a elevar o seu nível de compreensão/abstração, abrindo-se-lhe as possibilidades de entender/explicar a realidade por conceitos abstratos.

Pela mão do mestre o discípulo aprende que a sociedade não é apenas um somatório de pessoas que vivem na mesma época, em comunhão, mas condicionada pelo fato de sermos, em essência, separados uns dos outros, tal como se nos apresenta a relação social da troca.

Pela mão do mestre o discípulo se educa para uma autorreflexão crítica, com a qual se instrumentaliza contra o fetichismo da técnica, a prática sem teoria, a repressão do diferenciado, e, a despeito da adoção de métodos bárbaros contra a irracionalidade bárbara, aprende a rejeitá-la como solução social natural.

Pela mão do mestre, aquele que promove o encontro entre os tempos e as gerações, o discípulo experimenta a contemporaneidade para nela identificar não só as luzes, mas o obscuro que incessantemente a interpela do passado no sentido de sua legibilidade.

Pela mão do mestre, intérprete da condição humana, o discípulo percebe que o conhecimento em si, apenas, não tem valor se não aplicado à convivência solidária, ao respeito às pluralidades, ao agir social, à formação das convicções.

Pela mão do mestre o discípulo finalmente compreende – aqui parafraseando Drummond – que o pássaro, posto que liberto para o voo, tem o ar como limite; posto que livre o espírito, o corpo o fixa à racionalidade da matéria.

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Por Arlene Borges da Cunha
Presidente da Comissão Processante da SRE Metropolitana B
Professora da Rede Pública Estadual.
Especialista em Gestão Escolar

Texto publicado no Jornal "O Tempo" de 15 de outubro 2016, como homenagem pelo Dia do Professor.

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