Aquilo que a própria paixão não conseguiu fazer, a paixão bem imitada o executa. (Diderot. Paradoxo do Comediante).

Se a grande preocupação da Educação brasileira atualmente é definir a base do que ensinar ou não ensinar nas escolas; se nossas experiências curriculares, ao longo dos tempos, apontam para a ciência e a arte como instâncias do saber culturalmente separadas, é necessário que se reflita sobre o papel que exerce a educação artística na formação integral de nossos jovens.

Já na Antiguidade, no décimo livro sobre a República, Platão decide o destino da arte pelo seu caráter de utilidade, banindo da pólis o artista trágico. Se apenas raramente, no intuito de conciliar o espírito e a vida, a arte inspirou confiança ao mundo burguês, opondo-se à realidade, ela promete, como o canto das sereias, a beleza do seu feito, embora o risco de sua descoberta.

Tolerada enquanto renúncia ao conhecimento, a arte não pode, contudo, abdicar-se da práxis social: como ideia de solução para questões (às vezes insolúveis) da vida, dá-lhe testemunho de sua verdade, o que significa assumir (haja vista a uma educação emancipada) um novo conceito para o ensino da arte, no intuito de entendê-la como expressão antitética da sociedade (ADORNO, 2003:19).

Consciência dos problemas sociais, a arte afirma-se para lá de tudo que se possa imaginar, e sua suposta irracionalidade torna racional qualquer manifestação nela observada, pois seu conteúdo, oriundo da história, obriga-nos à sua reflexão.

Portanto, à experiência estética de nossos alunos, para a qual devemos conduzir nosso objetivo enquanto resultado do ensino da arte, deve-se acrescentar o apoio interdisciplinar da filosofia, embora a arte, mesmo em sua lógica, não seja conceptual ou formule juízos.

Experiências verdadeiramente artísticas, porém, só se verificam quando libertas do gosto da simples fruição, ainda que muitas vezes esse atributo possa ser entendido como única razão de ser da obra de arte. Ou, em outras palavras, faz-se necessário menos saboreá-la e tanto mais interpretá-la criticamente.

Por outro lado, quando se trata de produções de arte na/da escola, requer-se o olhar cuidadoso do professor, pelo qual, ao superarem o estágio da mimese reprodutiva (ou simples cópia do que já é dado), muitos alunos revelem, pela imitação produtiva, a criatividade, isto é, a arte, nesse momento não sendo a própria vida, mas sua representação, substituindo a natureza, superando-a. Trata-se agora do artista, aquele que acrescenta qualidades próprias à obra que se lhe propõe.

E se a “arte nova é tão abstrata como as relações dos homens se tornaram em verdade” (ADORNO, 2003:44), tal pensamento filosófico confirma a necessidade da arte no sentido de não só compreendê-la, mas interpretá-la em face do seu conteúdo histórico-cultural, o que exigirá de alunos e docentes tempo de estudo e trabalho. Do contrário, a educação artística se limitará à condição de uma disciplina a mais nos currículos escolares.

Referências
ADORNO, Theodoro W. Teoria Estética. Tradução de Artur Mourão. Lisboa: Edições 70, 2003.

DIDEROT, Denis. Paradoxo do Comediante. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os pensadores)
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Por Arlene Borges da Cunha
Presidente da Comissão Processante da SRE Metropolitana B
Professora da Rede Pública Estadual.
Especialista em Gestão Escolar
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