No mês de Outubro prestigiei uma das festas tradicionais mais importantes para a Comunidade Quilombola dos Arturos, a festa de Nossa Senhora do Rosário. Ela representa o movimento máximo de amor e devoção à Grande Mãe, forma pela qual as pessoas da comunidade retratam a santa do rosário.

O foco principal da festa, que tem duração de três dias, se dá através do encontro das guardas de Congo e Moçambique que acontece no segundo dia do festejo. Vestidas nas cores rosa e azul, as guardas da comunidade quilombola tomaram a frente do cortejo, que contou com a presença de outras guardas de cidades como Juatuba e Mateus Leme, ambas situadas na região metropolitana de Belo Horizonte. O festejo em homenagem a Santa se iniciou após a missa conga na Igreja da Paróquia Nossa Senhora do Rosário no bairro Alvorada em Contagem de onde todos seguiram até a humilde capela que fica no interior da Comunidade dos Arturos. Foram aproximadamente dois quilômetros de cortejo rodeado de muita energia e fé na protetora dos homens pretos demonstradas pelas guardas através da dança, dos cânticos e do som marcante dos tambores.

O Congado é um festejo popular afro-brasileiro mesclado com elementos religiosos católicos. É um movimento cultural sincrético, que envolve cantos e danças específicos (Moçambique, Congo, Marujada e outros), além de levantamentos de mastros, coroações e cavalgadas, expressos em um período do ano denominado Reisado e que tem seu ápice na festa do Rosário no mês de outubro. São utilizados instrumentos musicais como cuíca, caixa, pandeiro e reco-reco que entoam o som que é acompanhado pelos cânticos. Os congadeiros seguem organizados em marcha conduzidos pela figura do Capitão atrás de uma bandeira que leva o nome da guarda. No caso das guardas de Moçambique acrescenta-se ainda as figuras do rei e da rainha, que segundo a historia, representam Chico Rei ¹ e sua esposa.

As guardas de congado se constituem, na grande maioria, de grupos familiares onde o encontro de gerações proporciona a transmissão das tradições dos mais velhos aos mais novos através da oralidade e da própria prática, fazendo assim, com que o Congado faça parte integrante da identidade de cada pessoa, sendo ela criança, adolescente ou adulto.

Localizada no município de Contagem, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, a Comunidade dos Arturos descende de Arthur Camilo Silvério (daí surge o nome Arturos), filho de escravos libertos, que fora beneficiado pela lei do ventre livre. Segundo relatos das pessoas mais velhas da comunidade, o terreno habitado fora adquirido no ano de 1888 pelo pai de Arthur, Camilo Silvério, e ocupado mais tarde por ele, sua esposa e os filhos na expectativa de ter uma vida livre das opressões advindas de um momento “pós-escravidão”. O Quilombo foi criado em um local onde fosse possível garantir o sustento da sua família e manter as tradições herdadas de seus antepassados. Atualmente a comunidade é formada por aproximadamente 400 pessoas, sendo a maioria, descendentes diretos do fundador Arthur.

Chico Rei ¹ - existem varias historias sobre Chico Rei, uma das mais comuns diz que ele foi trazido como escravo para o Brasil onde mais tarde conseguiu comprar sua alforria e de outros conterrâneos com seu trabalho e tornou-se "rei" em Ouro Preto.
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Fonte: sremetropb.blogspot.com.br
Texto: Anne Caroline Vaz
Foto: Anne Caroline Vaz

 

 

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