Para o Alex Gabriel, servidor da B integrante da equipe da Divisão de Gestão de Pessoal (Digep), o próximo dia 21 de abril representará algo além do aniversário de execução do mártir da Inconfidência, vez que será o dia do lançamento do seu primeiro livro de poesias, intitulado “Hoje ele olhou pra mim”. O Blog da B conversou com ele, que nos contou alguns detalhes da sua incursão pelas veredas literárias.

Blog da B: Como surgiu o gosto pela poesia?
Alex Gabriel: A minha paixão pela literatura existe desde a mais tenra idade, mas o prazer pela leitura e ofício poético só surgiu enquanto eu cursava a Faculdade de Letras. Penso que isso se deve ao tratamento dado à poesia ao longo da minha vida escolar, numa abordagem que a fez parecer algo chato, denso e desnecessário. É certo que algo mudou dos meus tempos de escola pra cá, mas não significativamente, o que, embora seja uma pena, me parece natural, dado se tratar de um círculo vicioso.

B.B.: Como você pensa que a poesia deveria ser abordada no contexto da sala de aula?
A.G.: Eu penso que a abordagem que a escola dá à poesia reflete algo mais amplo, que é toda uma forma de a nossa sociedade conceber a própria Educação. Creio que a escola deva resgatar da poesia o seu poder de comunicação oral e função terapêutica, por assim dizer. Ao, por meio do verso, traduzir um processo humano, o poeta acaba por possibilitar ao leitor a apreensão do que, a princípio, parece inapreensível. Nesse contexto, a poesia tem como que um compromisso com o outro e, por conseguinte, um compromisso social, muito embora não deva tomar para si essa função. Eu, pessoalmente, sonho com uma escola que traga a poesia mais para o campo existencial em vez de fazê-la parecer distante e inacessível.

B.B.: E o “ofício poético”, como você disse, como aconteceu pra você?
A.G.: Você usou a palavra certa, pois escrever poesia é algo que, de fato, “aconteceu” pra mim. Tudo o que recordo é que, quando era ainda estudante de Letras, num fim de tarde como qualquer outro eu me peguei escrevendo o meu primeiro poema, ao qual intitulei de “Redenção” – e que, se Deus quiser, dará título ao meu próximo livro. Surpreendi-me com o resultado, pois não me lembrava de, antes disso, haver escrito um verso sequer. Daí me dediquei a escrever outros, chegando a bons e maus resultados, e, quando dei por mim, era tido como poeta por professores e colegas, ainda que eu resistisse a esse rótulo.

B.B.: E qual o porquê da resistência?
A.G.: É que, embora já fosse leitor voraz, eu não havia vivido experiências que, naquela época, eu julgava necessárias para ser considerado poeta. Eu não havia lido os grandes clássicos, não havia feito os melhores cursos, não havia produzido versos como os do escritor X ou Y, o que, ao meu ver, me tornava indigno do título de poeta. A gente tem muito essa coisa de achar que pra ser poeta, filósofo e afins é preciso colecionar grandes feitos, alcançar um determinado nível, ter uma determinada formação. Não estou desconsiderando a importância da formação, é claro. O que estou dizendo é que, quando a gente vê, por exemplo, um Patativa do Assaré – que, cego de um olho, órfão de pai aos oito anos, frequente à escola por apenas alguns meses e trabalhando duro já na infância para ajudar a família, se tornou o grande poeta, cantor e compositor que foi – a gente passa a relativizar essas coisas. Hoje penso que qualquer pessoa poder ser poeta, ainda que não se expresse em versos, pois ser poeta vai além de escrever poesia, de modo que continuarei a sê-lo mesmo que, de repente, desista ou, por motivo de força maior, deixe de escrever.

B.B.: O que é ser poeta então?
A.G.: Ser poeta tem mais a ver com um estado de alma. Trata-se de uma capacidade de olhar pra dentro, de encarar o outro além das aparências, de pensar a vida além do que é socialmente estabelecido, de perceber a beleza das coisas, ou mesmo “a beleza triste das coisas”, como me disse um amor recente. Vê que isso independe da habilidade para a arte da escrita? Até arrisco dizer que, na verdade, é algo maior e anterior a ela.

B.B.: Pelo que você diz, você já escreve há algum tempo. Por que, então, a decisão de somente agora publicar?
A.G.: Durante muito tempo eu resisti à publicação de um livro, pois, além de me parecer uma baita responsabilidade, acho que já existe muita coisa boa para se ler. Por que, então, eu publicaria um livro? Comecei a repensar isso, no entanto, diante das manifestações de amigos que se identificavam com o que eu escrevia, que viam nos meus textos um reflexo de suas histórias. Assim, animei-me diante da possibilidade de servir por meio do ofício poético, bem como de, naturalmente, me expressar de maneira mais ampla, fosse na desilusão amorosa, na inquietação diante dos rumos do meu país, na depressão etc. Nesse sentido, dedicar-me à publicação foi terapêutico pra mim! Ademais, eu acho que, de alguma forma, publicar um livro é algo político, sabe? Ter origem humilde e publicar um livro é político. Trabalhar na educação e lançar um livro é político. Ser gay, ter visão subnormal e publicar um livro... Sei lá, de alguma forma tudo isso é por demais significativo e político, saca?

B.B.: E “Hoje ele olhou pra mim”, o que representa?
A.G.: “Hoje ele olhou pra mim” trata de um amor em processo de maturação, tal como a própria poesia. Mas foi só durante a organização dos textos para o livro que eu me dei conta disso. Após uma primeira seleção de textos, senti-me incomodado com a presença de alguns dos primeiros poemas que escrevi, sonhadores e repletos de rimas pobres que me pareciam. Considerei retira-los, e foi quando me apercebi da sintonia que havia entre a presença desses poemas e a própria organização da obra, que apresenta um amor que idealiza, que amaldiçoa, que sofre as dores da separação, que deseja. O amor ali, portanto, caminha lado a lado com o próprio ofício poético, de modo que, se um vacila, o outro também vacila, sem que nunca se deixe de amar e tampouco de escrever. Ao ter o livro em mãos, o leitor compreenderá o que estou dizendo...

B.B.: Quem é “ele”?
A.G.: Eu não posso contar (risos), até porque penso que não me cabe. Mas posso dizer que “ele” talvez seja aquilo que todos nós esperamos, sem nunca nos darmos conta de que, na verdade, nós mesmos o somos.

Analista Educacional na SRE Metropolitana B, Alex Gabriel é graduado em Letras e especialista em Revisão de Textos pela PUC Minas. É colunista dos sites O Segredo e Eu Sem Fronteiras, estreando na literatura brasileira com “Hoje ele olhou pra mim”.

Lançamento:
Local: Idea Casa de Cultura
Endereço: rua Bernardo Guimarães, 1200, Funcionários
Data: sábado, 21 de abril de 2018
Horário: 16h00
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Fonte: sremetropb.blogspot.com.br
Imagem: Tuane Silva

 

 

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